quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Crítica do Amer: Saw


Pra ser muito sincero, nunca fui muito fã da série Jogos Mortais. Reconheço a premissa inovadora da franquia e gosto do personagem Jigsaw, que consegue ser uma das criações mais inteligentes do cinema de terror moderno.


Mesmo assim, não me apeguei a série. Devo isso a uma amiga que me contou o final do primeiro Jogos Mortais antes que eu o assistisse. Quando a grande surpresa do filme é estragada antes mesmo de o alugarmos, fica difícil se interessar pelos demais produtos da série.

Aliás, me contaram o final de O Sexto Sentido antes que eu visse também. Tenho algumas amigas que são malditas.

Mas devo dizer que depois de jogar este game, estou disposto a dar uma segunda chance para os filmes de Jigsaw. Agora, eu já disse antes e volto a dizer: “games baseados em filmes geralmente são ruins.” É um clichê, mas é verdade, mas temos que analisar o porquê disso.

Games de filmes normalmente são feitos com pouco dinheiro e prazo apertado, a meta é lançá-los ao mesmo tempo que o filme chegue às telonas, de modo que os fãs que saírem empolgados do cinema comprem o jogo por puro hype. Muitos destes games também são destinados a crianças e como a humanidade em geral as considera formas de sub-vida incapazes de raciocínio, os produtores não se preocupam com a qualidade de tais títulos do mesmo jeito que fariam com um game normal.

Bom, não tem nenhum filme de Jogos Mortais no cinema no momento e este produto definitivamente não foi feito com crianças em mente. São pontos a favor, certo?

Sim, são. Mas será que Saw consegue se livrar da maldição dos games baseados em filme ou é só mais um título mercenário criado para seduzir os fãs de uma série popular?

É o que vamos descobrir!


Aqui, você controla o detetive David Tapp, personagem que no primeiro filme foi interpretado por Danny Glover e se você bem se lembra, era obcecado por capturar Jigsaw.


Pois bem, aqui foi ele quem acabou capturado e preso em um dos labirintos do maníaco e logo que a história começa, precisa se livrar de uma das clássicas armadilhas de Jigsaw, daquelas que rasgam a cabeça da vítima ao meio.

Começou bem.

Enfim, após salvar a própria pele, Tapp precisa navegar por todo o asilo abandonado para poder escapar e retomar sua vida, mas há um pequeno porém... sempre há um pequeno porém... Jigsaw costurou uma chave dentro do corpo de Tapp, chave esta que abre a única saída do asilo... e do qual todos os outros que estão presos precisam para fugir.

Já deu pra entender onde isso vai levar, não? E mais, Jigsaw também prendeu inúmeras pessoas relevantes para a vida de Tapp e que de uma forma ou de outra acabaram presas em sua obsessão por capturar o maníaco. Tapp precisa salvá-las para poder progredir e aos poucos confrontar os demônios de sua vida.

A história é bastante simples, o que chega a ser um alívio.

Não existem as milhares de pontas soltas ou a bagunça do enredo de Resident Evil, tampouco as complexidades psicológicas de Silent Hill. Não que estas duas séries não possuam bons enredos (Silent Hill pelo menos TEM um enredo), mas as vezes é bom jogar algo cuja história pode ser facilmente entendida logo no início e cujo desenrolar não precisa de horas de pesquisa na internet para ser entendida.

Aqui não há conspirações ou elementos misteriosos oriundos de um mal oculto. Apenas um homem que errou e agora busca a redenção.

E as vezes, isso é tudo que basta.


A parte técnica de Saw não ganha nenhum prêmio, mas faz um bom trabalho.


Os gráficos usam a Unreal Engine, que na minha opinião não é a melhor ferramenta gráfica do mundo (não importa o que os fanboys digam). Normalmente, personagens feitos com a Unreal Engine acabam com ranhuras na pele, como se tivessem sido passados por um ralador de queijo, mas isso não acaba sendo um problema notável aqui, pois os modelos de personagens são bastante simples.

O elenco é composto de individuos bem distintos, mas que não possuem o nível de detalhes que costumamos encontrar em games que usam a Unreal Engine. Se como eu você desgosta do excesso de “aspereza” no visual dos mesmos, pode encarar isso como uma boa mudança.

A animação dos modelos é competente. Nada estelar, mas bastante superior a outros títulos que temos no mercado atual. Já os cenários são um caso a parte. Tudo é sujo, sombrio e aflitivo, uma representação perfeita dos locais onde os filmes normalmente ocorrem. A mistura de sombras e luz é perfeita e passa um aspecto macabro para o asilo, o que dá uma sensação ruim como deveria ser a intenção dos programadores. O áudio do game é estelar.

Salvo alguns momentos chaves, não há músicas pela aventura, tudo que ouvirá na maior parte do tempo serão seus passos e os gritos distantes de outros prisioneiros do asilo. Não preciso nem explicar a tensão que um áudio destes é capaz de causar, correto?

E mais, a dublagem é muito boa. Embora o detetive Tapp não tenha sido novamente interpretado por Danny Glover (o que é perdoável, pois o Michael Corleone dos games não é o Al Pacino), o ator que empresta sua voz a ele é muito bom, assim como as demais escolhas do elenco, que transmitem bem o pânico das vítimas de Jigsaw.

E por falar dele, Tobin Bell repete com maestria seu papel como o antagonista da série. Venhamos e convenhamos, a figura de Jigsaw é assustadora em grande parte devido a voz sepulcral do maníaco, qualquer outro ator que assumisse o papel aqui seria um enorme desrespeito aos fãs dos filmes.

É o mesmo que substituir o Robert Englund por Jackie Earle Haley no papel de Freddy Krueger em uma nova versão de A Hora do Pesadelo.

...

O quê? Substituiram Robert Englund por Jackie Earle Haley na refilmagem de A Hora do Pesadelo???

NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOO!!!


A jogabilidade de Saw se divide entre correr pelo asilo e combater inimigos e resolver puzzles. Vejamos um de cada vez.


Ao avançar pelo asilo, você vai dar de cara com inúmeros malucos que (literalmente) querem o seu couro. Nestes momentos é preciso lutar pela sua vida e damos de cara com o ponto mais fraco do jogo: seu sistema de combate.

É possível usar uma grande variedade de equipamentos ao longo do game, desde bastões de baseball e canos de chumbo, até armas improvisadas como pernas de mesa e braços de manequins. Infelizmente, ao usar tais armas, os movimentos de Sapp se tornam muito lentos, o que lhe deixa muito vulnerável aos ataques dos inimigos.

Por outro lado, se atacar de mãos limpas, seus movimentos serão tão velozes que a maioria dos inimigos pode ser levada a nocaute sem que sequer tenham a chance de encostar em você.

O combate é bastante desequilibrado e favorece você ou o computador, sem meios termos. Caso prefira não lutar, o jogo lhe oferece opções para evitar inimigos, como fazer barricadas ou passar trincos em portas, o que pode não deter permanentemente os inimigos, mas pelo menos lhe dá tempo para fugir ou bolar uma estratégia de ataque.

Outra coisa que pode matá-lo facilmente são as inúmeras armadilhas espalhadas pelo cenário. Vez ou outra você vai tropeçar em algum cabo e disparar uma espingarda que vai decorar as paredes com seus miolos, mas por incrível que pareça, morrer de forma assim tão besta não chega a ser enfurecedor, devido aos inúmeros checkpoints do jogo.

As armadilhas se mesclam muito bem ao cenário, mas podem ser vistas com relativa facilidade caso o jogador preste atenção a cada passo que dá, mas como em alguns momentos você estará correndo contra o tempo sem prestar atenção aos arredores...

Devo dizer que estas são as melhores armadilhas que já vi em um game. Em muitos títulos, as ditas “armadilhas” são plenamente visíveis e fáceis de evitar, o que tira totalmente seu propósito, enquanto aqui elas são traiçoeiras e letais como devem ser, o que sem dúvida combina bem com o clima do jogo.

Aliás, tendo os itens necessários, é possível rearmá-las e atrair os inimigos até elas... o que é sádico, mas bastante eficiente e divertido.

Outro tipo de armadilha são as que surgem atrás das portas, onde é necessário apertar um botão exato no momento em que elas são abertas para evitar um tiro na cara. Claro que com o passar do game tais armadilhas se tornam previsíveis e facilmente evitadas, mas ajudam a aumentar a tensão por parte da história.

Também é possível construir três tipos de bombas diferentes e deixá-las pelo cenário para que matem os adversários. Elas costumam ser muito eficientes, de fato, são tão eficientes que matarão você caso não tome cuidado com elas.

Quanto aos puzzles, eles não costumam ser complicados. Normalmente é preciso ajustar um grupo de engrenagens para desarmar uma armadilha ou fechar um circuito elétrico para abrir uma porta, coisas que não dão muito trabalho em uma situação normal. Mas grande parte das vezes, há um tempo determinado para resolver os puzzles e se não conseguir, bombas ao seu redor irão explodir ou alguma vítima morrerá.

Este limite de tempo costuma ser generoso para se resolver os puzzles, infelizmente, conforme o final do game se aproxima, eles se tornam complexos e é fácil perder a calma e o raciocínio e fracassar em um deles.

Em algumas salas é preciso encontrar a peça necessária para se ativar um puzzle grande e em seguida perceber que é preciso resolver OUTRO puzzle grande... que também precisa de uma peça escondida pelo cenário para ser ativado. Fracassar em uma empreitada dessas pode ser uma experiência desencorajadora, especialmente quando estamos próximos do desfecho da história.

Há puzzles menores, como encontrar uma chave dentro de uma privada cheia de seringas usadas ou em um barril de ácido, que pouco fazem exceto lhe dar calafrios ao ver o detetive Tapp removendo o braço perfurado por inúmeras seringas quando finalmente apanha o item necessário.

Se como eu, você não é amigo de injeção... é... desagradável...

Bastante...


Saw é um bom game de terror, e um bom título baseado em um filme. Apesar de ser baseado em uma série de filmes, o game não exclui aqueles que não sabem a diferença de Jigsaw para o Chucky.


Mesmo não sendo uma obra de arte, Saw é um bom primeiro passo e não posso deixar de imaginar o que os produtores farão com a série quando trabalharem na inevitável continuação.

E pra viciados em Achievements, este game é um achado. Você pode lotar seu Gamerscore de pontos com uma mísera sessão de jogo.

Vício é uma coisa horrorosa...

Cheers!!!

Um comentário:

Jacob F. disse...

Amer, quando você vai fazer o review de Saw II: Flesh & Blood?